Daqueles sonhos que permanecem uma realidade

Existem alguns momentos, alguns olhares, algumas fotografias no olhar que permanecem para sempre. É preciso estar com os olhos abertos e o coração preparado.

Não faz ideia do que eu estou falando? Vamos fazer uma experiência. Pense sobre algo bem bonito, que aqueceu o seu coração. Alguma cena bem agradável, talvez rara, que seu espírito fotografou através das lentes de seus olhos. Foi uma experiência boa, não foi? Mais maravilhoso ainda é quando essa experiência não é apenas um exercício imaginativo, mas uma realidade.

Eu não percebia esses gestos, até considerava isso uma frieza da minha personalidade. Afinal, já vivemos em tempos em que a delicadeza e a gentileza estão tão escondidas que são consideradas quase uma utopia. Vivi assim até que uma cena dessas aconteceu na minha frente e comecei a deixar de ser cega.

Um vovô preocupado com a saúde de sua esposa, um casal andando de mãos dadas, uma vovó cuidando da alimentação de seu marido, um marido que, carinhosamente, beija a testa de sua mulher, uma esposa interessando-se pelo bem estar do seu esposo... Falando assim, soa normal. Vivendo, nem tanto.

Mas por que falar sobre isso? Qual o sentido de um texto sobre vovôs e vovós carinhosos? Porque isso precisa ser valorizado, exibido, escancarado para o mundo.

Meus avós são italianos, ou seja, cresci com polenta e suco de uva. Além do mais, cresci vendo as cenas mais engraçadas que eu consigo lembrar. Afinal, italianos falam alto, conversam bastante e possuem uma tendência a se exaltarem facilmente. Isso significa que meus avós brigavam bastante.

Para uma menina de sete anos, ver seus avós brigarem em uma língua diferente é divertido. Não se sabe muito bem o que está sendo dito, mas pelo tom de voz, entende-se que é uma discussão. Eles falavam alto, reclamavam um do outro, falavam alguns palavrões (algumas coisas eu conseguia compreender)... Enfim, um caos. Mas sempre depois das brigas, minha avó fazia a comida preferida do meu avô e ele, por sua vez, deixava o maior pedaço de carne para ela. Sempre um sorriso no rosto, sempre uma discussão alterada. Estão juntos há cinquenta anos. Cinquenta anos!

Eles nunca me falaram sobre casamento, mas testemunham com a sua vida. Com eles e com outros casais do meu entorno, aprendi que amor, antes de ser um sentimento, é uma decisão. Antes de ser um sonho que deu certo, é uma realidade que foi construída sobre um sonho.

Um mundo cor-de-rosa, sem brigas, com felicidade transpirando constantemente, um frio na barriga incessante, a falta de ar da paixão, isso não é amor. Se fosse, amar seria uma frívola ilusão, inútil e desnecessária. Amor vai além.

Há uma decisão por trás de toda a doação e abdicação em prol do outro. Suportar aos defeitos e aguentar as dificuldades é uma escolha constante. Perdoar em vez de condenar, facilitar em vez de dificultar, apoiar em vez de julgar, permanecer em vez de partir. Amar é decidir-se por algo que foi um sonho bonito, mesmo sabendo dos percalços. É saber do chulé e lavar as meias com alegria. É saber que alguém precisa falar e ouvir com atenção.

Ninguém vive um matrimônio de cinquenta anos só de coisas boas, assim como um casamento sólido não se cria depois dos vinte anos de casados. Amar é uma decisão que vem do começo, desde os primeiros anos do namoro. É um compromisso, uma responsabilidade. É uma decisão para a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a riqueza e a pobreza, por todos os dias da vida, até que a morte separe. É fácil? Não, não é. Mas tomar as decisões certas não é o ato mais fácil da vida.

Eu já me decidi. Quero um matrimônio como o dos meus avós, como o dos meus pais. Um amor-decisão, um sonho que permaneça uma realidade. E você?

Um grande abraço,
Aline.

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