Do que aprendi com Gandalf

É possível que você, assim como eu, já tenha vivenciado o seguinte diálogo: 

- Oi, fulano! Tudo bem? 
- E aí, ciclano! Tudo certo! Como anda a vida? 
- Bem corrida! E aí? 
- Bem corrida também. 

Agora, nesse período em que fomos obrigados a ficar em casa e sossegar, porém, a corrida parou. Nossos dias, antes tão cheios de atividades, foram reduzidos à monotonia de uma rotina tranquila. Todos em casa, nos deparamos com outra realidade. 

Agora temos tempo. Muito tempo.

E o que faremos com ele? Como lidaremos com isso? 

As respostas são as mais diversas. Alguns preenchem as horas com estudos, trabalhos, aprofundamentos. Outros, por sua vez, colocam em dia as horas de sono perdidas. Existem aqueles que consomem todos os filmes disponíveis nas plataformas, enquanto mais alguns agarram-se ao celular e à tecnologia sem a qual não podem mais viver. 

Há uma corrente pregando a produtividade, a otimização do tempo e o aproveitamento daquilo que, normalmente, não temos. Ao mesmo tempo, outra corrente suaviza os impactos e garante que não há problema em ver os dias passarem pela janela do quarto, deitado na cama, de pijama o dia inteiro. Afinal, qual o problema em não estar no seu melhor estado durante o surto de uma pandemia? 

Enquanto refletia sobre isso, ouvi a voz de Gandalf sussurrar no meu ouvido uma verdade que eu já esquecera. O mago, lentamente, repetia para mim: 

"Tudo que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado". 

Exatamente. É tudo que nos cabe. Podemos preencher os dias de Eternidade ou podemos deixar que escorram por nossos dedos. Podemos escolher entre melhorarmos nossa rotina e deixarmos que ela se transforme em algo monótono e cinza. 

Mas qual o problema em passar mais tempo dormindo? Qual a maldade em comer um pouco mais que o normal? Existe mesmo algum problema em não me dedicar a investir as horas de uma forma produtiva? 

O problema é que fomos feitos para algo que extrapola nossa realidade atual. Transcende as pandemias, os isolamentos, as correrias. Fomos feitos para sermos nossa melhor versão, fomos feitos para a santidade. Fomos feitos para o Céu! Nossa tendência, porém, é usufruir da lei do menor esforço e não mover muitos dedos para cumprir o projeto. 

Estamos acomodados. Somos preguiçosos. Ficamos moles. Nos conformamos em ser um rascunho do que poderíamos e, por conveniência, colocamos a culpa da nossa frouxidão na falta de tempo. Afinal, não tenho tempo para rezar, assistir à missa, praticar e conhecer a minha fé. Afinal, não dá pra viver uma vida de piedade, estudar, trabalhar, ter vida social e saúde mental, não é? Não temos tempo suficiente pra tudo isso. 

Gandalf nos lembra: só precisamos decidir o que fazer com o tempo que nos é dado. A Escritura nos lembra: "A cada dia basta o seu cuidado" (Mt 6, 34). Santa Teresinha, magistralmente, nos dizia que só temos hoje. 

A cada dia, recebemos uma nova oportunidade de sermos melhores, de cumprirmos a meta, de levarmos o plano até o final. Todas as manhãs, podemos decidir o que fazer com o tempo que nos é dado. Só precisamos decidir o que fazer. Estabelecer nossas prioridades, ver o que precisa ser feito e colocar amor no que fizermos. Sem desculpas. 

Então, quando compreendermos essa realidade, poderemos nos confrontar com outra pergunta um pouco mais profunda e, talvez, dolorosa: 

Era falta de tempo ou falta de vergonha na cara? 

Que Deus nos ajude a sermos sinceros. 
Grande abraço, 
Aline.

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