Da possibilidade rejeitada

"Na verdade, encontrar meninos que desejam ser padres é muito mais fácil do que encontrar meninas que queiram ser freiras. Com meninas é preciso insistir mais, muito mais.". Disse um padre amigo meu.

Quando ouvi isso, achei que era brincadeira dele. Talvez uma tentativa para que eu refletisse sobre a minha vocação. Pois é, ele conseguiu. Passei muito tempo refletindo sobre isso. Será que é essa a vontade de Deus pra mim? O que eu farei se for? Como lidar com isso? Então eu cheguei a outro ponto da reflexão.

As meninas não são levadas a acreditar que a vida religiosa é um caminho possível. Se, nos últimos tempos, casar e ter uma família já é uma ideia hedionda, imagina ser freira!

Além do que, muitas vezes, os conventos são usados como forma de amedrontar as coitadas. "Se tu não te comportar, te coloco no convento!", diz uma mãe. "Ah, se continuar desse jeito, vou te mandar pra morar com as freiras, aí tu vai ver!", diz outra mãe. "Ai, já tem 20 anos e ainda não arrumou um namorado... Vai ficar solteirona, pior, vai ser freira!", dizem as tias, os tios, os amigos... E por aí vai. As queridas irmãs ficam com fama de Bruxa Má do Oeste e não há criança, adolescente ou jovem que não se sinta assustada. Afinal, ir morar com as freiras só pode ser um castigo imposto pelos pais, não é? A última cartada de alguns para que as filhas aprendam bons modos, sejam comportadas e saibam arrumar a cama. Ou a saída desesperada para aquelas que não conseguiram um namorado.

Se fosse apenas isso, até que não seria tão complicado. Existem outros motivos para afastar as mocinhas das congregações e, infelizmente, talvez sejam esses os mais graves.

Vivemos em um mundo absolutamente hedonista, imediatista e egoísta.Tudo precisa satisfazer as minhas vontades, na hora que eu quiser, sem questionamentos. A castidade se tornou piada, o celibato, uma utopia. Votos de pobreza, obediência e castidade? Ah, por favor! Ninguém mais acredita nisso!

Assim crescem as meninas (os meninos também, mas o foco aqui é a vocação feminina), acreditando que tudo lhes é permitido, tudo lhes convém, e que remar contra a corrente não faz sentido. Sendo assim, deixar uma vida "normal" para ingressar em uma congregação religiosa é absolutamente incoerente. "Uma menina tão inteligente, tão bonita, com tantas habilidades... Por que vai virar freira?" é o que dizem muitos por aí. Parece que a criatura resolveu ir pra cadeia ou algo assim.

Ainda bem que existem pessoas que pensam diferente e compreendem que a vida religiosa não é a abdicação da liberdade, do amor e de todas essas coisas que servem como argumento. A vida consagrada é um caminho propício para a santidade, para a conquista do Amor verdadeiro! São a prova de que podemos continuar vivendo, e vivendo bem felizes, abrindo mão daquilo que é tido como essencial.

Abraçar a vocação religiosa é dizer, ou melhor, gritar aos quatro ventos que é possível viver em um mundo de modo diferente daquele que é pregado. Que a liberdade é conquistada conforme vivemos os projetos de Deus para a nossa vida, que é possível sim viver de um modo que não seja hedonista.

O serviço aos pobres, aos doentes, aos necessitados, contrasta com a nossa realidade egoísta. O sorriso no rosto e a alegria desmentem a ideia de freiras serem mulheres mal resolvidas em sua vida amorosa, ressentidas e tristes por não terem encontrado um marido.

Ou seja, meninas, não tenham medo! Ser irmã não é um bicho de sete cabeças e, se é para isso que Deus te chama, abrace com alegria! Não deixe que tirem o brilho dessa bela vocação, coragem.

Um grande abraço,
Aline.

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