De incomodar

Então você teve uma experiência com Deus, descobriu o Seu Amor infinito, a Misericórdia que te abraça e a beleza da Vida Eterna. Percebeu a alegria que é ver Jesus Sacramentado e ter a graça de passar um tempinho com Ele. Que maravilha! Depois de um momento tão decisivo, resolveu mudar de vida, seguir esse Amor incondicional, ser um fiel seguidor de Cristo. Muito bem!

Mas então acaba o retiro, a Santa Missa, a reunião do grupo de jovens e você é obrigado a enfrentar aquela que todos nós conhecemos, mas com a qual, às vezes, não sabemos lidar muito bem: a vida. Depois de uma experiência tão linda, parece que a sua obrigação, o seu dever principal é anunciar a Boa Nova para o mundo inteiro. E realmente é, mas esqueceram de avisar isso para o mundo. Nesse momento, você percebe que é uma vela acesa e a sua missão é aquecer o inverno frio do Rio Grande do Sul (daqueles de usar 3 calças, 3 meias, umas 3 blusas, uma básica de lã, um casacão bem grosso, touca e manta). Boa sorte.

Pode parecer exagero mas, se pararmos para pensar, não é tão exagerado assim. Jesus disse que teríamos cruzes, que seríamos perseguidos, que teríamos que passar por uma porta estreita e que o caminho não era fácil. Ele avisou. Além do mais, se analisarmos um pouco melhor, depois de Jesus, todos passaram por perseguições. Temos os mártires para provar isso: gente queimada, apedrejada, decapitada... A lista é enorme. Mas não só os mártires, todos os santos foram perseguidos e, olha que coisa mais linda, todos eram felizes por causa disso. Sofrer por Cristo, morrer por Cristo era motivo de honra, de glória, de alegria! Era a prova principal de um coração que sabe que Deus é a Verdade, não podendo ser negado.

É aqui que você entra, pequena vela. É aqui que nós entramos. A perseguição de hoje, na maior parte dos lugares, não é tão violenta quanto já foi. Assim como melhoramos e ampliamos as formas de evangelizar, as estratégias de perseguição e martirização também mudaram. Se tornaram tão sutis que, às vezes, são quase imperceptíveis. Lhe excluem de algum evento, evitam falar com você sobre algo, buscam todas as formas possíveis de atacar a Igreja, usam apelidos como "santinho", "rato de igreja", "beata", "freirinha" (como se isso fosse um insulto!)... e outras coisas mais.

Todos percebem que você é diferente, porque a sua luz ilumina e incomoda aqueles que estão nas trevas. Isso mesmo, i n c o m o d a. Por isso que, de todas as formas, tentam nos rebaixar. O que fazemos com um sapato que aperta? Com um espinho cravado na pele? Queremos nos livrar disso o mais rápido possível, para que possamos voltar para a nossa comodidade, a nossa zona de conforto.

Você, pequena vela, com o seu testemunho, irrita, incomoda, deixa muitos e muitos indignados. Afinal, se você consegue viver uma vida diferente, eles também conseguiriam. Se a sua vida pode ser uma renúncia ao pecado, a deles também pode. Se você deixou o seu coração se voltar para o Céu e desejar a Santidade, eles também podem se libertar das amarras do mundo e buscar a Eternidade.

O problema é romper com o pecado. Você sabe, eu sei, a Igreja sabe, romper com uma vida de pecado é muito difícil. Infelizmente, nos acostumamos com um mundo depravado, que não sabe mais distinguir entre o Bem e o Mal, que relativiza tudo e todos, que prega tanto a liberdade, mas vive como escravo. O pior de tudo, contentam-se com essa escravidão doentia e recusam os esforços daqueles que se empenham em libertá-los.

Por isso, agradeço por você ser uma vela e faço um pedido. Cuide dessa chama, não deixe que os ventos frios do pecado, da insegurança, do medo e dos anseios apaguem esse fogo tão belo. Resista! Nunca se afaste Daquele que é nosso combustível eterno, a primeira chama, na qual se acendem todas as velas. Apesar de todos os problemas, erga sua cabeça e sinta-se honrado por sofrer pelo Reino, por amor a Cristo. Continue incomodando, é o que fazemos de melhor.

Um grande abraço,
Aline.

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