Do trabalho do ferreiro
Existe uma bela jornada que precisa ser trilhada por todos nós. É uma aventura em busca de tesouros que fundamentarão nossas vidas e guiarão nossos caminhos. Uma jornada em busca de bússolas reguladoras, de ordenadores das nossas mais impetuosas forças. É um trabalho de conquista.
Se você se interessou, parabéns! Agora inicia sua jornada em busca das virtudes. Mas, sabendo disso, você pode se perguntar "Ué, eu preciso conquistar virtudes? Isso não é algo que nasce com a gente?"
Consideremos, então, que nossas vidas são como edifícios a serem construídos. Lembra da passagem da casa construída sobre a rocha? Pois então. Precisamos construir nossas vidas sobre a Rocha, que é Cristo. Mas, além disso, é necessário escolher muito bem o material com o qual construiremos essa casa. São Paulo, em 1Cor 3, 9-15, explica "Veja cada um, porém, como edifica... Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um ficará patente, pois o dia do Senhor a fará conhecer. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa; se pegar fogo, arcará com os danos.
Podemos construir com palha, madeira e feno. Não há problema. Mas, se a construção for provada pelo fogo, sabemos o que irá acontecer. Por outro lado, o ouro, a prata e as pedras preciosas resistem ao fogo e manterão a casa de pé. O problema é que não achamos nenhum deles tão facilmente quanto encontramos a palha, por exemplo.
Essa analogia pode ser usada para as virtudes. Elas são o material de construção que não se submete, que não perece. São o ouro, a prata e as pedras preciosas. E, assim como as preciosidades, precisam ser garimpadas, alcançadas, conquistadas. Aqui, então, o motivo de nossa jornada.
Por onde começar? Bem, pelo começo. Sabemos que elas são "atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade". E mais, são elas que "regulam nossos atos, ordenando as nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé". É isso que nos explica o Catecismo no número 1804. Elas são potências que, aliadas aos sacramentos, às orações, aos sacrifícios e às boas obras de caridade, ordenam e governam nossas vidas.
Entendido isso, chegamos ao próximo ponto. Exitem as virtudes teologais, que são Fé, Esperança e Caridade. No Batismo, recebemos a graça santificante de Deus e o Espírito Santo vai fundamentando tais virtudes em nossos corações. Nosso papel é continuar desenvolvendo tais presentes, colaborando com o Espírito. São as virtudes teologais que aperfeiçoam as virtudes humanas.
As virtudes humanas são, essencialmente, quatro: prudência, justiça, fortaleza e temperança. E onde foram parar as outras? Castidade, mansidão e afins? Essas são conhecidas como virtudes humanas satélites, pois derivam das primeiras.
Boa parte do caminho já foi percorrido, muito bem! Já compreendemos o valor de tão belas jóias e concluímos que é importante conquistá-las. Surge, agora, o ponto mais interessante da história. Na busca pelas virtudes, você irá sofrer. Sim, é isso mesmo. Vai doer, vai machucar e vai incomodar. Mas o melhor de tudo vem agora: VAI VALER A PENA.
No livro "O Pequeno Príncipe", há uma frase que ficou gravada em meu coração: "É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se eu quiser conhecer as borboletas". E é exatamente assim com quem busca uma vida de virtudes.
Tal atitude exige de nós uma movimentação contra a nossa vontade, que é sempre a lei do menor esforço. É como um trabalho de ferreiro: nós somos o ferro, Deus é o ferreiro, a virtude é o fogo e as provações são a marreta. O ferreiro se usa do fogo e de marretadas para moldar a peça de ferro, fortificá-la e deixá-la pronta para ser utilizada. Assim é conosco.
Teremos que lutar contra nossa vontade e buscar a vontade de Deus. Isso, é claro, exigirá sacrifícios e mortificações. A curto prazo, pode até ser que cause certo sofrimento (duvido que o ferro goste de apanhar no fogo), mas, a longo prazo, nos fortalece e nos molda de acordo com o projeto do Ferreiro.
Quando conquistamos uma virtude, acabamos percebendo que nos faltam muitas e muitas outras, e assim vamos. É um espírito de busca que devemos ter. Mesmo que doa, sabemos que é uma dor produtiva. Afinal, é melhor sofrer agora com mortificações e buscando o Céu. do que passar a Eternidade sofrendo com a ausência de Deus.
Que Deus nos conceda Sua graça para que continuemos nossa jornada rumo ao Céu.
Grande abraço,
Aline.
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