Do que éramos

Não é incomum ouvir as pessoas mais velhas proferirem a tão conhecida frase "No meu tempo não era assim!", ou "Na minha época, as coisas eram diferentes!"... Percebemos que estamos passando da mesa das crianças para a mesa dos adultos quando nós mesmos começamos a dizer coisas assim. É praticamente inevitável. 

Usamos frases assim para mostrar o que mudou, o que se transformou, o que foi modificado. Às vezes, para o bem; em outras, para o mal. As vovós usam para dizer que elas eram comportadas e nós somos bagunceiros, bem típico. Mas... e se os santos do Céu falassem isso, com que objetivo seria? 

Os cristãos dos primeiros séculos poderiam dizer "Na minha época não tínhamos tanta liberdade para professar a nossa fé. Seria um sonho poder visitar catedrais tão belas sem sermos perseguidos!". Já os santos da Idade Média poderiam expressar um emocionado "Se, no nosso tempo, dispuséssemos dos recursos e da tecnologia de hoje, quantos avanços não teríamos feito! Quantas belas catedrais e igrejas mais poderíamos ter construído?". 

Os teólogos, intelectuais e doutores se alegrariam com o acesso à informação e aos materiais de estudo. Os santos que consumiram suas vidas servindo aos doentes estariam em êxtase com os avanços da medicina e com as possibilidades de cura. Os que entregaram sua existência para atender aos pobres e necessitados se satisfariam com os recursos disponíveis para o ser servir. 

Todos encontrariam no momento presente maneiras para empenhar sua vida por amor a Deus. Temos nós feito isso também? 

Nunca antes vivemos um tempo tão tranquilo, sem grandes perseguições, sem grandes problemas que nos impedissem de servir ao Senhor, com tantos recursos ao nosso alcance nos movendo para a santidade. Então poderíamos dizer que deveriam estar brotando santos do chão, seguindo o conselho de Santa Catarina de Sena e "colocando fogo no mundo". Infelizmente, o panorama não é bem esse. 

Nos acomodamos. Essa é a verdade. Estamos encalhados na areia do nosso comodismo, do nosso conformismo, do nosso conforto. 

Muitos católicos de Facebook, de likes e stories. Postamos fotos e frases de Santa Teresinha, mas não seguimos seu exemplo de entrega de vida. Choramos em todas as adorações ao Santíssimo Sacramento e fazemos o Santíssimo chorar quando vamos a uma festa. Anunciamos aos quatro ventos que "nos convertemos", mas não sabemos qual o horário de missa na nossa paróquia. Cantamos "Aonde mandar eu irei", mas não vamos até o pároco pedir se ele precisa de ajuda com a catequese, as visitas aos doentes, a limpeza do jardim da casa paroquial. 

Se realmente olharmos para a vida dos santos, veremos que todos foram corajosos. Todos corresponderam plenamente à vontade divina, com heroísmo. Longe das garras do exibicionismo que é tão pungente em nossos dias, viveram virtuosamente, buscando apenas a maior glória de Deus.

Eles entenderam o que Santa Teresinha explica com maestria: "Depois do exílio da terra, espero ir gozar de Vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o Céu, quero trabalhar só por vosso Amor, com o único fim de Vos agradar, de consolar o vosso Coração Sagrado, e de salvar almas que Vos amarão eternamente. 

A nossa meta deve ser o Céu. As alegrias do Céu, as maravilhas na Eternidade. Tudo que se afasta disso e nos afasta de tão santo objetivo não é bom. Seria triste se os santos dissessem "Na minha época, os jovens sonhavam em ser santos. Hoje, apenas querem parecer santos.". 

Mas Deus é bom. Ele nos quer convertidos, santos, perfeitos, e nos oferece todas as graças possíveis para que sejamos como Ele deseja. Cada dia é uma nova oportunidade para amar mais, servir melhor, empenhar mais desejo de santidade e serviço. Cada santo dia é uma nova chance para que nos convertamos e mudemos de vida. 

Chesterton dizia que "Cada época é salva por um punhado de homens que têm a coragem de não serem atuais", colaborando com o pensamento de São Josemaria Escrivá, explicando que as crises pelas quais passamos são crises de santos. 

É possível alcançar a santidade e corresponder ao plano de amor do Senhor. Ainda é tempo de seguir o conselho de Santa Catarina de Sena: sermos o que Deus quer e colocar fogo no mundo. O fogo do Espírito Santo, da conversão, das almas que amam e fazem amar o Senhor. 

Deus nos ajude! 

Abração, 
Aline.

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