De quando Chiara me deu o presente

Quando se é criança, tudo que se quer é viver o dia até o fim. Brincar, brincar, brincar, só isso importa. As aventuras do dia, as brincadeiras do dia, o dia é o que importa. Quando se cresce, porém, as coisas mudam. 

Depois de "grandes", a vida parece que entra em uma corrida interminável. Corremos de um lado para o outro, nos atolamos em nossas preocupações, pulamos de um compromisso para outro e, quando nos apercebemos, tudo que queremos é que o dia acabe, a semana acabe, o mês acabe e assim por diante...  

Depois que comecei a faculdade, isso se potencializou. Passei a viver os dias esperando o fim do semestre, quando finalmente poderia descansar e relaxar. Quando comecei o TCC então, meu primeiro pensamento foi "Tomara que esse ano acabe logo, para eu me formar e acabar de uma vez com isso tudo!" Quem nunca? 

É essa a reação natural, não? Evitar o desgaste,  o esforço e querer o que é bom, o descanso, a alegria, o prazer. Ainda mais se sabemos que iremos nos estressar e sofrer pelo caminho. Somos humanos e passamos por isso. 

Mas esse não precisa ser o caminho. Aprendi isso com minha amiga, Chiara Corbella Petrillo. A quem ainda não conhece essa Serva de Deus, recomendo vivamente que busque conhecê-la. Não irá se arrepender. 

Quando li a sua história, conheci a sua vida, uma parte me marcou muito. Chiara, depois de perder dois filhos e descobrir um câncer durante a gestação do terceiro, é avisada de que sua doença chegou a um estado terminal. 

Seu terceiro filho nascera saudável, seu marido e seus amigos estavam preocupados com o futuro, ela sabia que iria morrer mais cedo ou mais tarde. E o que ela diz a seu marido quando ele a revela sua situação? Com medo de que o diabo a tente, Chiara pede expressamente: "Só não me diga quanto tempo me resta, porque eu quero viver o presente." 

Que desprendimento! "Eu quero viver o presente". Um pouco depois, ao receber a visita de uma amiga bem próxima, Chiara completa: "Eu deixei de querer entender, de outro modo a gene enlouquece. E estou melhor. Agora estou em paz, agora acolho o que vier. Ele sabe o que faz e, até agora, jamais me decepcionou. [...] Depois, para cada dia existe a graça. Dia a dia. Devo apenas abrir espaço." 

Nesse momento, Chiara me deu um presente. Na verdade, Chiara me deu O presente. Eu pensei "Se uma mulher que passou por tudo isso consegue se preocupar apenas em viver o presente, eu também posso." E assim segui. 

Não é fácil, nem de longe. Porém, é libertador. É uma maneira perfeita de abandonar-se nos braços do Pai com plena confiança. O passado não será ruminado e nem irá nos assombrar, pois pertence à Divina Misericórdia do Senhor. O futuro também não nos perturbará com suas incertezas, pois o confiamos à Divina Providência. Nossa única preocupação será viver o presente e todos os pequenos passos possíveis para a nossa santidade. Como nos ensinou Santa Teresinha, para amar o Senhor só temos hoje. Só temos o hoje. 

Para Chiara, não foi fácil, nem simples, nem tranquilo seguir vivendo o seu Calvário até o dia em que faleceu. Mas foi justamente esse sofrimento que a levou ao Céu. Da mesma forma, para nós, é possível que não seja o caminho mais fácil. Talvez soframos, talvez choremos, talvez não queiramos viver aquele momento com os sacrifícios que lhe são próprios. Porém, são esses momentos, esses sacrifícios que nos levarão ao Céu. 

Que Deus nos ajude a viver o presente confiando em Sua Graça e Seu Amor! 

Grande abraço, 
Aline.

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