Dos castelos nas nuvens
Nos últimos dias, tenho pensado muito sobre o que as pessoas são e o que queremos que elas sejam. Estava partilhando meus medos e anseios com um amigo e ele me disse "Cuidado com as expectativas sobre as criaturas". Na hora, disse para ele que não estava criando expectativa alguma e que tinha tudo sob controle.
Os dias passaram e não consegui tirar aquela bendita frase da minha cabeça. Volta e meia, enquanto analisava minhas situações, lembrava daquilo: "Cuidado com as expectativas sobre as criaturas". Então eu percebi o que estava acontecendo na minha vida.
Existe uma palavra em alemão chamada Luftschloss. Literalmente, ela significa "castelos de vento", algo nessa linha. O significado real, porém, é "sonho impossível, improvável"; trocando em miúdos, ilusão. Brinco com uma amiga que já tenho pós doutorado em Engenharia, pois sou expert em construir castelos nas nuvens. O pior de tudo é que isso é verdade. A parte dos castelos, não a do pós doutorado (infelizmente).
Nos últimos tempos, porém, tenho percebido que eu não sou a única especialista nessa arte, pelo contrário! Quanto mais converso com as outras pessoas, mais percebo que somos muitos! Pelo que vejo, as capacidades de desenvolvimento de realidades ilusórias são mais comuns do que se imagina.
Queremos que as pessoas sejam como nós queremos. Esperamos que elas ajam como nós sonhamos. Desejamos que sejam aquilo que não são. Conhecemos alguém e logo depositamos nessa pessoa todas as nossas expectativas, principalmente no que diz respeito aos sentimentos.
Aposto que vocês conhecem essa cena. Uma guria conhece um guri e eles se dão bem. Conversa vai, conversa vem, um deles já está "apaixonado". Então chegam em casa e a parte apaixonada pega o celular e envia para os amigos próximos: "Fulano, acho que encontrei meu futuro marido/minha futura esposa!". Então há uma empolgação generalizada e é bem capaz das gurias já terem decidido a cor dos vestidos das madrinhas, de modo que combine com a decoração e a gravata do noivo.
Mas, com o tempo, a pessoa apaixonada começa a se frustrar. O outro não envia mais mensagens bonitinhas, nem curte e comenta as fotos. Nas conversas, parece mais distante, talvez um pouco apático. Aí surge a famosa pergunta: "Mas onde está aquela pessoa que era tão incrivelmente maravilhosa?". A resposta, muito provavelmente, é simples: na sua imaginação.
Passamos a vida assistindo a filmes românticos e temos referências muito altas do que é um par perfeito: porte atlético, extremamente bonito, com um senso de humor maravilhoso, inteligente e romântico, acrescente aqui tudo o que consta na sua listinha (eu sei que você tem). Nós nos esquecemos, entretanto, de que os personagens dos filmes são apenas personagens. Eles não são reais. As pessoas que convivem conosco, porém, são de carne e osso.
Não adianta esperar que aparece na sua porta um príncipe encantado como os galãs dos últimos filmes da Netflix. Lamento informar, mas não será assim. Em termos católicos, não adianta esperar que o próprio São José ou a própria Virgem Maria apareçam na sua frente com um cartazinho dizendo "Quer namorar comigo? Deus me mandou aqui". Não é assim que o jogo funciona.
Isso significa que devo reduzir todas as expectativas e não estabelecer parâmetro nenhum? Se São José não vai aparecer, devo me contentar com o jumentinho que foi usado na viagem até Belém? Também não é por aí. Não se trata de não ter parâmetros, mas sim de encarar a realidade e ter parâmetros acessíveis.
A perfeição só será encontrada no Senhor; isso é fato. As criaturas não podem nos dar o que é próprio do Criador. Assim como nós não somos perfeitos, as pessoas ao nosso redor também não o são. Não adianta nada querer exigir dos beneditos aquilo que eles não podem nos dar. Pedro será Pedro, não Mr Darcy. Joana será Joana, não Elizabeth Bennet. Eventualmente, Pedro e Joana se encontrarão e poderão ser felizes, mas só se Pedro for Pedro e Joana for Joana. Se Joana quiser Pedro, não Darcy; se Pedro quiser Joana, não Elizabeth.
Com o tempo, com a convivência, com muita oração e, principalmente, com muita graça divina, cresceremos em virtude e diminuiremos nossos defeitos. Assim como diamantes brutos são lapidados para assumirem sua melhor forma, nós também sofreremos as dores de nossos atritos, de tudo aquilo que também vem para nos lapidar. Assim, chegaremos à nossa melhor forma, mas sem perder nossa identidade. Joana será a melhor Joana que poderia, assim como Pedro será o melhor Pedro que poderia ser, mas isso e processo, é evolução. Ao fim da vida, ainda não seremos perfeitos. Apenas alcançaremos esse patamar quando nos encontrarmos com Aquele que é perfeito.
Até lá, seguiremos nossas vidas. Todos possuem uma bagagem, uma história, um passado. Todos possuem suas misérias. Como poderemos exigir que o outro seja perfeito enquanto eu sou um miserável? Como poderei exigir que o outro não peque, não erre, não falhe, se eu sou o primeiro a cair em tantas fraquezas? Fica, novamente, o aviso do meu amigo: "Cuidado com as expectativas sobre as criaturas".
Quando conseguirmos nos libertar da arte de construir castelos nas nuvens, conseguiremos olhar para as pessoas com olhos renovados, reabilitados. Veremos nelas os irmãos que Deus nos deu, com suas falhas e erros, com seus vícios e defeitos, com suas virtudes e vitórias, com seus acertos e exemplos positivos. Assim, quem sabe, perceberemos que o que tanto buscamos esteve sempre ao nosso lado. Não foi São José que apareceu na sua porta, mas um João que, com certeza, fará o possível para se assemelhar ao grande esposo da Virgem Maria. Não foi a Virgem Santíssima que apareceu ao seu lado, mas uma Ana que se esforça constantemente para imitar as suas virtudes. E isso bastará.
Que Deus nos ajude a manter os pés nos chão e as expectativas baixas. Afinal, já dizia o ditado:
"Não crie expectativas, crie porcos. Se tudo der errado, ao menos você terá bacon".
Seja a Virgem Maria nosso modelo de busca pela perfeição, sem esquecermos do amor e do cuidado pelas criaturas.
Deus nos ajude!
Grande abraço,
Aline.
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