Da velocidade anormal

Levei um susto quando percebi que eu estava fora de controle. Principalmente porque achava que nunca seria afetada por isso. Era capaz de jurar ser uma pessoa controlada, desapegada, tranquila... Até que fui confrontada pelas minhas próprias teses e teorias. Todo mundo cai do cavalo uma vez
ou outra, não é mesmo?

Nessa curta vida até agora, muita gente já veio até mim com a pergunta "Mas o que eu faço?" e a resposta sempre foi "Vai com calma". O segredo é esse e a teoria todos sabem. A dificuldade reside na prática. O famigerado vai com calma não encontra espaço para acontecer nas nossas vidas. 

Duvida? Faça o teste. Converse com alguém que desativou os risquinhos azuis e o visto por último do WhatsApp. Mande uma mensagem importante para a pessoa que você gosta. Eu era capaz de apostar que você vai conferir  tela do seu celular esperando a notificação da resposta. Que você checará a mensagem várias vezes para ver se Fulano-De-Tal está online e não responde. Que você vai checar as outras redes e ver se a pessoa está conectada, ao mesmo tempo em que entra numa crise desesperada de "O que essa pessoa está fazendo que não me responde?!?!" Estou certa ou não? 

Se eu estiver errada e você não entra em parafusos de ansiedade, meus parabéns. De verdade. Por aqui é raro acontecer isso. 

Na verdade, não só por aqui. Por todos os lugares. Nossa geração está automatizada e prejudicada, é refém de sua maior arma. A tecnologia, a internet, as redes sociais... Elas deveriam nos ajudar, não nos atrapalhar. Mas, ao contrário do que deveria, ficamos mais ansiosos, mais atarantados, mais dispersos. 

Não conseguimos ficar sem nossos celulares. Quando o aviso de bateria fraca aparece, corremos desesperadamente em busca de um carregador e uma tomada (isso quando não temos um carregador portátil na bolsa ou mochila). Quando conversamos com as pessoas, queremos que elas nos respondam imediatamente, mesmo que estejam trabalhando. Não sabemos suportar as demoras, detestamos o suspense, odiamos o silêncio. Ao nosso redor, somos bombardeados com os mais frequentes estímulos. Dentro de nós, a balbúrdia é constante. Queremos a paz de um coração tranquilo, mas não sabemos cultivar o que é necessário para manter a tranquilidade. 

Invejamos os relacionamentos duradouros e felizes, mas fica cada vez mais difícil de alcançar essa meta. São relacionamentos forjados na paciência, na espera, no cultivo. Na época em que se escreviam cartas e se esperava pela resposta. Na época em que as coisas precisavam durar e não eram facilmente descartadas. Na época em que as pessoas compreendiam que o que é bom precisa de tempo para crescer. 

A velocidade em que vivemos não é normal. Não é natural. Não precisamos estar disponíveis por 26h ao dia. Não precisamos responder as mensagens assim que elas chegam. Não precisamos saber de tudo que acontece assim que acontece. A vida não funciona desse jeito. Basta contemplar a natureza e perceber que estamos nos matando aos poucos. 

Tudo leva tempo para crescer. Não plantamos uma semente em um dia e colhemos os frutos em outro. Leva tempo. Leva tempo assim como o amor, como a amizade, como os sonhos que temos em nossas vidas. O instantâneo, o automático, o mais rápido possível... Tudo isso é coisa de robôs, não de seres humanos. 

Estamos robotizados, vivendo com constantes crises de ansiedade por pressões que nos auto infligimos. Necessitamos de um lugar tranquilo e calmo para desacelerar, mas olhamos para todos os cantos e só vemos pressa, correria e cansaço. A vida não é e não precisa ser assim. 

Pise no freio, reduza a marcha, desacelere e aproveite a vista. Se for necessário, desligue o carro e vá caminhando. As pessoas não precisam corresponder às expectativas altíssimas que você depositou sobre elas. Você não precisa corresponder às expectativas altíssimas impostas de maneira cruel e inumana. Você não é um robô, é um ser humano. Com o seu tempo, com as suas possibilidades reais. Não precisa correr. A velocidade nem sempre faz bem.  

Que Deus nos ajude. 

Grande abraço, 
Aline.

Comentários

  1. Parabéns, texto maravilhoso, muito bem escrito e, com percepção fundamental da realidade atual.
    Faz refletir a respeito das coisas por fazer e como organizar-se para aquilo que, de fato, vale a pena. Já que o tempo passa rápido, precisamos escolher o que é bom de verdade, ou seja, estar conscientes do que queremos.
    Abraço, e continue!

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